Quarta-feira, quando eu tenho o direito de falar com minha filha, pelo telefone, a tardinha, recebi dela um pedido de Natal. Estranhamente, não me pediu presentes, roupas, calçados, nada disso.
Ela me pediu um bolo de chocolate, numa mesa decorada. Um pedido tão singelo, mas marcado de simbologias. Tadinha, não sei o que se passa em sua cabeça. Não pude ligar para ela no dia do Natal, nosso Natal será amanhã, domingo, quando ela passa o dia comigo e vai comer o bolo pedido.
Estranhos os desígnios de nossas vidas. Só eu sei o que está acontecendo. Só eu sei como ela viaja comigo. A necessidade que ela sente de ficar abraçada em mim. Para comer qualquer coisa, eu tenho que sentar ao lado dela, ficar bem juntinho. Antes, ela corria na minha frente. Agora, ela só quer andar de mãos comigo, no meu colo, ou agarrada em minhas pernas. É claro que o furo psicológico é visível, só a insensatez não permite que vislumbrem esse crime virulento de alienação parental, justo contra nós que tínhamos e vivíamos um amor tão sólido e tão marcante.
Deus deve saber dos desígnios e dos propósitos, embora em certas ocasiões eu tenha vacilado muito, tamanho é o desgaste, a tristeza e o pavor de viver a situação que me foi imposta.
E o que é pior, o mais grave, é que a partir de mim, acabei descobrindo uma infinidade de casos de pais que enfrentam o mesmo problema. A mãe decide sair de casa, arruma outro homem, arrasta os filhos consigo e começa a guerra da alienação parental, e isso não tem uma lógica, atinge pessoas de todos os níveis, de todas as classes sociais, indistintamente. As crianças, impotentes, incapazes de compreender tudo isso, se tornam as maiores vítimas, pois vivem a resignação, sentem uma dor que sequer sabem a origem ... é tudo muito triste.
Noto na minha filha, quando digo para ela se arrumar, juntar as coisinhas dela, pois está na hora de eu levá-la, no final de tarde. Ela muda completamente o semblante, um ar de melancolia invade-a, tristeza, sei lá, eu noto que ela transcende da euforia para um estado de depressão...sei que ela queria ficar um pouco mais comigo. A viagem de volta é uma tortura para ela ... e também para mim, que ainda tenho mais consciência do crime que estamos praticando, assassinando suas infância, podando-a do convívio paterno, privando-a dos seus amiguinhos e dos locais que ela ama e curtiu desde que nasceu e deu seus primeiros passos.
Sei que as consequências disso tudo vão estourar, mais dias, menos dias. Ela já está traumatizada, marcada e com sequelas irreversíveis, pois está assimilando todo esse quadro caótico justamente na fase de formação.
Sempre lembro-me do Pastor Cláudio Cardoso, o líder religioso que mais defende a necessidade de os filhos serem criados com amor e num ambiente de fraternidade e afeto. Sua mensagem, assim como a da Pastora Ana Maria, apostam na geração de crianças sadias, em famílias bem estruturadas e alicerçadas em bases morais de fundamente ético, avessos a traições, malandragens, mentiras e despudores.
Conheço mães sem nenhum plano ético, desprovidas de bom senso, de discernimento, pessoas totalmente doentes, que ainda levam suas filhas e seus filhos a dormirem no mesmo quarto na casa de amantes e sem pudor, até mantém relações sexuais com estranhos na frente dos filhos e filhas. Isso, afora ser crime tipificado no código penal, é um crime bárbaro com a cabeça da criança, pois o estrago nunca mais terá volta para o resto da vida dessa criança. Só Deus mesmo serve de consolo nesses casos, pois a impotência humana e a justiça cega, apenas corroboram com a angústia e o mar de infelicidade das vítimas inocentes.
Eu me filiei a um Instituto de âmbito nacional, que trata dos crimes de alienação parental, descobri que esse corriqueiro problema é cruel, é uma guerra surda que acontece no seio de todas as sociedades, e é a pior das guerras, pois essa não é alvo de manchetes de jornais, é ignorada. Só que as consequências aparecem logo ali, com adolescentes rebeldes, jogados nas drogas, cheios de problemas de ordem psico-social, traumatizados, envenenados em seus corações, já destruídos em seus sonhos na infância.
A partir do momento em que fui convidado para escrever um artigo sobre o drama da separação de minha filha, adveio-me a ideia de fazer algo mais amplo. Parei com todos os meus projetos de escritas, tenho uma fartura de documentos, e decidi narrar tudo em livro, colocando o meu drama, o drama de minha filha e a posição e a postura do poder judiciário. Ademais, descobri essa guerra social cega, sem face, porém real e concreta e tenho certeza que vou produzir um libelo bem sintetizado e bem fundamentado sobre o drama das crianças e pais vítimas da alienação parental.
Ser pai ou mãe, é antes de tudo, uma sagrada delegação divina. O respeito à infância, o tratamento correto aos filhos, a seriedade com que tudo deve ser encarado, deviam pautar nossas vidas.
Infelizmente, grassa a banalidade, a superficialidade, o desrespeito com os direitos de um inocente. A sociedade vive e incentiva orgias e prostituições, explícitas ou implícitas, embora essas últimas sejam as piores. Até os que apoiam revanches pessoais e incentivam a destruição de lares e famílias por vingança, por ódios pessoais, ou até por não gostarem de uma pessoa, tornam-se cúmplices dessa ordem perversa, assassina e comprometida com o perfil satânico do destruidor.
Sou uma pessoa exposta, por ser escritor, por ser blogueiro, por ser jornalista, advogado ... enfim, por fazer um jornalismo opinativo e por participar da vida social com um canal de expressão e manifestação. É evidente que atraio ódios e rancores. Tenho isso bem claro. Como tenho bem claro meu papel de cidadão e do exercício de minha cidadania. Quando separei-me, quando tive minha família destruída e minha filha afastada de mim, o que não faltou foi plateia para incentivar a delinquência ... contudo, mesmo esses atores da revanche pessoal contra mim, nunca pensaram nos sentimentos de uma criança inocente, de apenas 4 anos de idade, que carregaria para o resto dos seus dias, na face da terra, as marcas de uma dor indescritível, pois os sentimentos de resignação de uma criança inocente, só elas sabem o que se passa, como se passa e como elas metabolizam tudo isso. É a tristeza de minha filha quando eu digo: "filha, te arruma, está na hora de irmos".