Passado o processo eleitoral, é hora de contarmos os mortos, lambermos as feridas e verificarmos o saldo. Caixa e os órfãos. As órfãs, principalmente.
Não vou aqui falar em números e nem em percentuais. Mas preciso contextualizar os Partidos e os atores políticos.
Guilherme, a rigor, teve grandes méritos e grandes erros.
Os méritos, são ligados às suas virtudes. É uma pessoa de boa índole, fez uma campanha elegante, preparou-se muito muitíssimo bem, soube fazer uma boa costura e gerou uma boa unidade. Foi impecável.
O erro, a rigor, foi subestimar o nome de Tiago Gorski, a extensão da máquina do PP, assentada, principalmente nas classes C, D e E de Santiago, o excesso de otimismo empírico e a subestimação do que as Pesquisas indicavam. Ademais, houve um campo de alianças cujo espectro era predominantemente de direita, a começar pela importância que Guilherme dava para o Sindicato Rural patronal. Por outro lado, as lideranças dos partidos coligados se preocupavam mais em destacar a operação lava jato do que com questões municipais propriamente ditas.
Em janeiro, realizei a primeira pesquisa eleitoral do ano, com os nomes de Tiago e Toninho e com simulações de vários nomes a vice. Pela oposição, à época, só tinha o nome de Paulo Rosado. Os resultados eram assustadores. Em método induzido, Tiago era um legítimo canhão. Quando fiz uma simulação com o nome dele é Cláudio Cardoso de vice, a chapa chegava aos 58%. Com Marquinhos, caia para 46%. Paulo Rosado ficava na faixa dos 12%.
A conclusão das amplas simulações: Tiago e Cláudio Cardoso eram imbatíveis.
O PP confiou na Pesquisa. Guilherme, não.
Guilherme achava que Tiago não tinha 30%, que ele não encarnava o PP e nem o eleitorado do PP se identificava com ele. O candidato ideal para Guilherme concorrer contra era Toninho.
A eleição teve aspectos secretos, que ninguém sabe.
Quando Marcos Peixoto foi escolhido, evidentemente que eu fui o primeiro a saber. Ele seria o vice de Tiago. Do ponto de vista eleitoral, Marcos não tinha um leque tão abrangente quanto Cláudio Cardoso.
Só que Guilherme tinha uma leitura às avessas. Pilhado por diversos pastores, não vou aqui citar os nomes, Guilherme achava que Cláudio Cardoso enfrentaria a rejeição das demais igrejas. E seu pavor era ter Marquinhos na chapa como vice, pois ele temia que os Peixotos baixassem com tudo e se tornariam imbatíveis. Eu insistia no resultado das pesquisas. Guilherme, a rigor, imagino eu, nunca levou as pesquisas a sério.
Quando escolheram Marcos Peixoto, a conclusão do staff da oposição (não sei bem quem era, acho que era só o Guilherme a Lu e eu, mais o Melão e o Bressan). Mas Melão e Guilherme achavam perigosa demais a dobradinha Tiago e Marquinhos.
Daí eu tinha que fazer o PP pensar diferente do que nós pensávamos. A teoria dos contrários era elogiar Marquinhos, dizer que ele era lindo divino e maravilhoso. Também elogiar Cláudio Cardoso e sustentar que ele fez a melhor escolha de ficar somente com a igreja e não concorrer mais a nada. Elogiando Marquinhos, o staff do PP pensaria que nós estávamos satisfeitos e se nós estávamos satisfeitos, eles estavam errados. Quando o elogio é demais até o Santo desconfia. E o staff do PP, acertou sem querer. É óbvio, no meio disso, veio a insurreição da filha de Chicão, dos Pintos ... o cargo foi negociado diretamente entre Júlio Ruivo e Marco Pai.
Tudo que Guilherme não queria era Marquinhos de vice. Curiosamente, ele achava Cláudio Cardoso um vice fraco e rejeitado. Eu também, de certa forma, acreditei nessa onda.
Nosso grupo era muito disforme. Um monte de idiotas orando pai nosso de mãos, achando que isso ganharia a eleição. Pastores, pais de santo, bruxos, maçonaria, católicos, cada um rezava o pai nosso de um jeito. Só faltou a ala islâmica na oposição. O Vulmar apareceu bem depois.
Quando deram o escanteio no Marquinhos, conversas entre famílias, novamente eu fui o primeiro a saber e a divulgar. O Melão e o Guilherme vibraram, era tudo que eles queriam.
Cláudio Cardoso nem sonha, mas a escolha do nome dele teve todo nosso apoio. O Guilherme queria ele ou o Davi, menos o Marquinhos.
Chegou um momento que a confusão era grande.
Só que na primeira pesquisa eleitoral que eu fiz, somente no centro, onde os entrevistadores pegam por amostragem moradores de quase todos os bairros, deu um número alto de indecisos, mas Tiago apareceu com 48% e Guilherme com 23%.
Essa pesquisa contaminou muito Guilherme. Encomendou outra simulação com o nome de Mauro Burmann. Esse, aparecia com 12%. O desastre estava anunciado.
Quando fomos pesquisar os bairros, a situação se mantinha.
O PP tinha as pesquisas dele. Confiavam e não confiavam nas suas próprias pesquisas. E eu mentia que a eleição estava embolada. Tava todo mundo numa área de incerteza.
Como eu sabia a real situação e não podia abrir nem para o grupo mais próximo a Guilherme, tentava alertar o pessoal sobre os perigos nos bairros D e E, que estavam maciçamente com Tiago.
Guilherme, ao meu ver, cometeu uma sucessão de erros. Confiou nas lideranças sindicais dos professores municipais e negociou o cargo de secretária de educação, que seria alguém do quadro, como o sindicato queria. Com isso, afastou de si todos os interessados em educação. Foi um erro tático bárbaro. Ficou claro que o Sindicato não tem ascensão sobre a categoria. O outro grande erro foi apostar nos servidores públicos; quando Tiago chamou os servidores de acomodados, o staff de Guilherme vibrou. Outro erro. O povo de vila odeia servidor público, acha que são uns mamadores, enfim, a gente sabe bem que os pobres detestam servidores públicos. Tiago só ganhou pontos e se consolidou ainda mais. Some-se a isso, o discurso de Cláudio Cardoso era um discurso de oposição; era uma maluquice total e ninguém na oposição sabia explorar o contra-discurso.
Outra furada. Guilherme também disse que o secretário de fazenda seria do quadro. Disse que iria fechar duas secretarias. Começou a dizer que os partidos não iriam governar com ele, que ele tinha carta branca de todos para compor o futuro governo. Como ele não prometia repartir as tetas, aos poucos, foram todos debandando. Ingenuidade, política é teta, isso até as pedras de Santiago sabem, mas Guilherme quis ser honesto ... e se ...
Por outro lado, sua campanha de Guilherme atingiu em cheio os formadores de opinião, ganhou toda a elite crítica e leitora de Santiago. Pegou 90% dos ricos. Se a eleição fosse somente no Jardim das Paineiras e Maria Alice Gomes, tava feito.
O problema é ignorar a concentração populacional das classes C menos, D e E.
Esse povo é essencialmente dependente da máquina municipal para tudo. O PP trabalha muito bem o assistencialismo, sabe dominar os pobres como um Don Juan em cima de uma adolescente indefesa. Fode com os pobres e os pobres ainda ficam agradecendo pela fodida. É um caso sério e atípico. É um sadomasoquismo político-partidário que nem Freud explicaria.
Por fim, os idiotas não sabiam das mudanças no cociente eleitoral para vereadores e fizeram 3 coligações dentro da coligação. Um desastre. Se ficassem todos coligados à oposição teria seis vereadores. Ficou com quatro. Nunca antes na história de Santiago houve um desastre eleitoral tão grande.
Não sei como a oposição pretende furar esse bloqueio. Em 2020, Tiago vem de novo. Em 2024, o PP tem Cláudio Cardoso, Peru Gorski (esse eu acho que faz mais votos que o próprio Tiago) e ainda tem o Júlio Ruivo.
Eu acho que só o PP pode se auto-destruir. Tipo um escândalo sexual com morte ou algo parecido. Senão ... chegaremos em 2030 ... e o PP seguirá ganhando. Outra solução seria matar os pobres ... Mas é impossível matar tanto pobre. Bota cidade que tem pobre. E os pobres adoram quem faz o que o Tiago fez. E ainda tinham o Cláudio Cardoso encomendando corpo, orando pelos doentes, fazendo caridade, fazendo casamento ... e de vez em quando um milagrezinho ainda. Cai um endemoniado, Deus junta um corno manso com a esposa (credo não posso falar isso, mas que é verdade é), sempre tem um que tava com câncer e foi curado ... Eu acredito em cura divina ...não tô criticando. Quando a mãe da Nina teve uma paralisia facial que entortou boca e um olho eu quase morri orando ... ainda bem que Deus ouviu minha oração e a boca dela (olha a cacofonia Froilan) meio que voltou para o lugar.
Voltando para o PP ...
E nem toquei na máquina da URI ... na governança invisível ... já escrevi demais sobre isso.
A máquina de votos do PP é muito bem azeitada. Júlio Ruivo vai dar um passeio de votos dentro de Santiago para deputado estadual. Não sei como ele está na região, mas arranca com seus 15, 16, 17, 18 mil votos dentro de Santiago.
O bom da campanha do Guilherme foram às moças lindas contratadas de capitães eleitorais. Só galeto. Vinicius de Moraes e Nelson Rodrigues iluminaram as contratações.
Como tudo na vida tem dois lados, esse foi o lado bom da campanha da oposição.
Claro, muita festa e diversão. Nunca se comeu tanta carne. Animal.