Eu sempre esperei de Deus morrer em mim. Abomino a doença. Nunca a demonstro.
Entretanto, meus últimos momentos foram pesados demais. Talvez uma combinação de medicamentos, muito deles potentes demais, combinaram com vômitos em excesso, fragilidade no organismo, passei o dia de ontem deitado. Há muito anos não passava o dia inteiro na cama. Apenas sai para ir no hospital, não considero a ideia de ficar internado. O Dr. Paulo, gentil e carinhoso, sugeriu-me que pegasse uma requisição de tomografia em seu consultório. Com enormes dificuldades para dirigir, fui deixando ... espero pelo efeito dos medicamentos ... estou fragilizado em minha saúde, nunca pensei que um simples deslocamento de nervo fizesse um estrago tão grande.
Por outro lado, a vida sozinha, inclusive sem ver a Nina esse final de semana, contribuiu para o isolamento e a ampliação da dor.
Sei que tudo passa. Meu serviço atrasou tanto, mas sou grato aos amigos que a distância, graças a telemática, ainda mantém contato, isso é lindo.
Eu não sou místico e não acredito no poder de forças estranhas, mas algo muito estranho se abateu sobre mim, nunca senti tanta náusea, parece que está tudo solto dentro de mim.
Sei que a vida é assim. Sei que mudei muito, perdi muito de minha vontade de potência, que a perda de minha família, a vergonha, o próprio afastamento de minha filhinha, a sucessão de derrotas que vieram após minha separação, a força da intriga dos adversários que jogam baixo, apenas para destruir, tudo somou e resultou neste novo quadro, um quadro velho, conhecido, onde opero com a capacidade reduzida do que foi na formulação da escrita, nos juízos e nos argumentos.
Some-me a isso, uma descrença acerca da política, dos evangélicos, do desgosto com a condição da família e do papel da mulher, apenas me machucaram mais e ampliaram meu isolamento. Não caí em desespero, nem na droga e nem na bebida, mas a resistência crua de minha alma, fragilizou-me imensamente. Não sou a mesma pessoa, nem seria pela dialética, nem seria pelo desgaste natural da vida de um ser solitário, nem seria pelo desgaste biológico.
Graças a Deus meu cérebro continua intacto, ainda estou de posse de minhas reais condições cognitivas e espero que tudo passe. Mas tenho ciência dos reveses, da ausência de aliados, da tristeza com aliados que se bandearam para os lado dos inimigos, com a sucessão de traições, e até com os vilipêndios a minha condição de advogado, que aqui em SANTIAGO - prerrogativas legais e constitucionais valem tanto quanto titica de galinha. Aqui o pensamento autônomo e livre só vale nos limites porcos do entendimento obtuso das lojas maçônicas, como se não fossem eles mesmos quem reduzem o saber e o conhecimento aos seus próprios limites e entendimentos.
Na madrugada retrasada disse ao Desembargador Ruy Gessinger de minha vontade de usar mãos dos instrumentais que disponho e dar vazão no sentido de estourar com toda esta farsa, ao que veio um longo e gentil conselho.
Ser advogado é andar de joelhos, prerrogativas só existem no papel, é a negação da negação do próprio homem e sua essência.
Na sociedade do conhecimento, o saber é reduzido a um empastelado espetáculo de sinopses grotescas, onde a altivez humana reduz-nos ao pó da decadência e da indecência. É tudo revoltante e repugnante na mesma proporção.
As perseguições contra mim, tomaram um vulto que ninguém acreditaria. Só eu sei, resisto quieto porque sou forjado na luta e meu aço é boa qualidade, mas se eu fosse contar o que têm feito para me intimidar, para fazer um recuar, duvido que as pessoas normais compreendessem. Eu sou apenas um ser humano, mas sou tratado como um monstro que preciso ser morto e aniquilado. E de preferência que me corpo seja exposto aos abutres.
Vou em frente. Esta escrita corrobora minha não cedência.
Deus sabe e o diabo sabe. Eu sei e o diabo sabe para quem aparece.
O jogo continua. Espero rever forças, retomar o controle de minha saúde, afastar os maus espíritos e travar o bom combate, enquanto eu for vivo, ou enquanto as forças vitais habitarem meu corpo.