Quantcast
Channel: JÚLIO PRATES
Viewing all articles
Browse latest Browse all 4921

A Escola da URI e a educação para a liberdade

$
0
0



A sabedoria judaica já recomenda que idade da maturidade, especialmente para iniciar os estudos em Cabala, é a partir dos 40 anos. Certamente, razão assiste aos nossos rabinos. A partir desse entendimento, o qual ouvi ao longo de minha vida, ao ser pai, ampliei minha razão judaica e passei a formular alguns juízos acerca da paternidade na maturidade cabalística. Um pai jovem, mocinho demais, não tem a maturidade suficiente para perceber todos os aspectos que envolvem a paternidade, a psicologia infantil, a liberdade, a repressão, o incentivo e a castração. 

Nasci e criei-me numa sociedade agrária, reacionária, repressiva e cultuadora de valores horríveis: racismo, preconceito de classe, homofóbica, censora, autoritária e machista. As crianças eram ensinadas a marchar,  domesticadas na base da moral (dominante e militarista) e no civismo de uma ditadura. Potencialidades eram castradas em casa, na escola e na vida em sociedade. Todos os aparelhos ideológicos da sociedade eram preparados para o ajuste social, político e econômico. Pensar diferente, significava a exclusão, o banimento e o isolamento social. 

Por tudo, quando aconteceu essa decisão divina de eu ser pai, revivi todos os meus valores, o caos de minha origem, os reflexos de minha formação e meus estudos, e a decisão pesada acerca da escolha da formação de um ser confiado a minha condição paterna. 

Sou avesso a qualquer tipo de repressão: sempre. Assim, procuro deixar minha filha livre em suas escolhas. Nessas, noto o quanto ela identificou-se com a escola da URI. Muitas vezes, paro e  fico refletindo acerca dessa identificação. Encontro as respostas na concepção didático-pedagógica. Gosto muito disso. As professoras são bem preparadas e mais do isso, dedicam-se, levam a sério o ato pedagógico e o fazem com uma porção substancial de amor.

Nessa Páscoa, a despeito do consumismo, vivi momentos singulares. Primeiro, por estar sozinho com minha filhinha, assim cabe a mim todos os atos que envolvem à escola. Ao longo da semana fui até a fábrica de chocolate (fotos). Apenas dois homens adultos na sala, mas estava tudo ótimo. Participei, ajudei, e fiz a minha parte. 

Nina adora a Escola da URI. Ama de paixão sua professora Arieli e passa repetindo, no cotidiano da vida em casa, aspectos de sua sala de aula. Minha filhinha não é nenhum anjo, mas noto o quanto ela se adapta bem, o quanto curte e vive intensamente todas as tarefas e todos os instantes que se apresentam. Fico muito feliz por tudo.

Amanhã, um coleguinha dela está de aniversário, o Miguelzinho Bazzana. Sábado, ela saiu comigo e mãe dela. Comprei o presentinho, mas ela fez a mãe dela comprar um vestido novo e está eufórica ante a perspectiva do reencontro com os coleguinhas numa festinha.

Por tudo, concluo que a Escola da URI é mesmo fantástica. Ensina para a vida, para a liberdade criadora, para o desabrochar, para os voos que se apresentam e para os que se apresentarão.  A não repressão, nesse momento da vida, é fundamental. A repressão castra, cerceia, e tudo nessa fase pode inibir e reprimir; nessa fase, o potencial criativo pode ganhar asas ou ser sepultado. Toda a sensibilidade e delicadeza são cruciais para desenvolver o potencial criador de uma criança. 

Como sou fruto da repressão, sempre pensei que um professor, assim como um pai, é responsável por incentivar ou castrar uma criança. Estou convencido de que a liberdade é sempre o melhor caminho. Assim como a democracia é insubstituível para a organização social.

Ultimamente, todas as segundas-feiras, perto das 11 horas da manhã, nós levamos a Eliziane até o laboratório da Engenharia Florestal, na UFSM, em Santa Maria. Ela sabe que vai ficar longe da mãe dela. Mas despede-se com naturalidade, deseja "bom trabalho" e aceita perfeitamente a rotina de uma viagem de volta. Vem me contando histórias, cantando e preparada para a aula que se aproxima, logo mais as 13 horas e 15 minutos. Sei que ali começa uma nova rotina, uma nova caminhada, com a construção de novos saberes, novos sonhos e novas aquisições de conhecimentos básicos para a vida.

 

Viewing all articles
Browse latest Browse all 4921