Por ser existencialista, por sofrer de depressão, sempre tive uma dependência muito grande de amizades sinceras, amizades profundas.
O significado de um amigo, para mim e meus padrões, é algo quase metafísico, muito além da pura acepção da palavra e chegando a transbordar em minhas emoções mais intimistas.
Quando perco um amigo ou uma amiga, sofro terrivelmente, caio numa tristeza profunda, tenho dificuldades até em sorrir. Amo muito certas pessoas e isso é sentimento íntimo, difícil de descrever, de resumir com palavras e construções frasais.
Minha tristeza com a separação da Eliziane teve um conteúdo afetivo sexual, mas o que mais me doeu é que eu era realmente um grande amigo dela, talvez – para mim – ela fosse a minha melhor amiga e por ela eu fazia tudo, dava meu sangue, meu suor, pedaços da minha vida, porque é meu modo de ser com as pessoas que eu escolho para ser amigo. Perdendo-a, perdi um relacionamento afetivo, mas também a pessoa que mais representava o vínculo mais puro de amizade. É óbvio, fiquei triste, chocado, amargurado e mergulhei numa estranha sensação de perda, cujas razões até hoje não entendo direito, porque entendo que a comunicação amor amizade não precisa necessariamente ser ligada. No meu caso foi e daí a dor maior pela perda de tudo.
Deus conhece meu coração. Deus conhece meus sentimentos. Dentre os mistérios divinos, de repente, do nada, do facebook, apareceu uma pessoa que disse que me entendia, que me queria me ajudar, e, com o passar do tempo, realmente tornou-se minha melhor amiga, ocupou um lugar divino dentro de mim, não me pediu nada, apenas ofereceu-me sua capacidade de compreensão. Com ela, abri-me, contei tudo sobre meus dramas, minhas dores, trocamos ideias sobre os sentimentos e ela me fez entender melhor a própria Eliziane e seus sentimentos.
Minha amiga também vive problemas no relacionamento e embora jovenzinha, um pouco mais jovem que a Eliziane, ela própria sabe sintetizar com sabedoria os dramas afetivos que enfrentamos.
Não temos nenhum envolvimento afetivo, nada disso, é tudo apenas amizade, amizade pura, límpida, escorreita e linda. Ela pegou-me no fundo do fundo do fundo do poço, começou a conversar comigo sem interesse algum, pois sabe que não sou ninguém e não tenho nada. E ainda por cima perdi tudo o que tinha.
Jamais imaginei que aquela moça que eu dia eu botei a boca num debate em blogs, viesse a se tornar minha melhor amiga, minha companheirinha de conselhos a ponto de saber tudo da minha vida, dos meus defeitos, das minhas virtudes, a ponto de ajudar-me e fazer-me sentir-me bem, reencontrar-me e partir para a superação.
Sempre disse que Deus saberia me ajudar e usar as pessoas certas para ajudarem-me nessa superação terrível. Ela veio, veio, veio, falou, expressou-se, sintetizou tudo com tanta perspicácia e sabedoria que conseguiu virar meu coração ao avesso. Fez-me sentir o significado da dor e os mistérios da vida. Não falou uma palavra de mal da Eliziane, apenas me fez entendê-la em sua ânsia pela vida e as amarras de um relacionamento.
Hoje já me sinto diferente. Entendi e assimilei a perda da amizade e do relacionamento afetivo que tive com a Eliziane. Respeito-a em sua liberdade de escolha e não guardo rancor em meu coração.
Domingo à tarde, enquanto eu dormia um sono profundo, límpido, quase um sonho angelical, o telefone tocou. Era para a Nina. Adoro ficar com minha filhinha, amo-a demais, é minha amiguinha, ao seu modo, ao seu estilo. Ela gosta de sair pela praça comigo, comer cachorro-quente de rua, brincar nos canteiros, ouvir histórias ao dormir e dormir sempre ao meu lado. E ela guarda alguns segredos, sempre quando ela percebe que o sono está chegando, começa a acariciar meu rosto e a pronunciar que me ama...que me ama, que me ama...e dorme.
Ontem, ela foi além e contou que está namorando o João, e perguntou-me: “tu não se importa não é pai?”. Ela me explicou que o João é o mais bonzinho para ela, que brinca com delicadeza, que não bate nas guriazinhas...e também descobri que o Miguel Bazzana é o terror...para ele todas são bonitas, diz isso para uma, diz isso para outra, e elas sabem entre si que ele é assim...que coisa mais curiosa. Elas e eles se namoram mas não sabem uns dos outros.
Nina adora a bagunça quando está ao meu lado, ela sabe dos meus sentimentos e curte intensamente a vida ao meu lado.
Meu estado de espírito é bem diferente nos últimos dias. Tenho conseguido me superar bem. Agora, com a presença da minha filha e com o afeto dessa amiga que me compreende, que me ouve, que se abre comigo, que deixou eu contar para ela meus dramas e ela contou-me os dela, do sexo ao não sexo ao amor... sinto-me bem, sinto que existe pureza nisso tudo, que existe a mão de Deus me ajudando. Tenho o Régis, filho do Rossano, que é um anjinho, abraço-o, beijo-o e sei que ele me ama, começo a notar o quanto os anjos estão acampando ao meu redor, especialmente com o Régis e a Nina.
Já o outro anjo, prometeu que hoje ou amanhã vai jantar conosco aqui no Batista, onde eu e a Nina ficamos morando em trânsito. Ela é o anjo da Graça. Obrigado por tudo Carla.