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Nascida dia 04 de junho, Nina, com uma hora de vida. |
Ela veio ao mundo numa noite fria. Muito fria. Como agora.
Lembro-me como se fosse hoje. O Dr. Décio levou-a até onde eu estava e pronunciei: NINA. Ela olhou-me. Foi uma cena fantástica, divina, maravilhosa.
Será seu primeiro aniversário que passarei longe dela. É tudo muito doído, deve ser também para ela. Ontem, quando falei com ela ao telefone, repetiu várias vezes: eu te amo, eu te amo, eu te amo.
É tudo tão confuso e tão estranho. Nós nos amamos tanto, e precisamos pagar um preço tão alto, que é conviver longe, conviver com a falta, com a ausência. É tudo tão complicado.
Desde que ela nasceu, até a separação de mim, foi o melhor momento de minha vida, fui o homem mais feliz do mundo, tudo para mim era alegria. Creio que vivi a felicidade mais plena que um ser humano pode viver.
Tudo que eu imaginei para ela, seus estudos, os contos, a literatura, os cursos de línguas, as aulas de piano, enfim, deu tudo errado.
Outro dia, tentei pedir perdão para Deus, para a Eliziane, para a Nina, mas confesso-me num brete, pois até hoje não sei - exatamente - onde errei e qual o epicentro do meu pecado, do meu erro. Sou levado a crer que o erro, talvez, seja a paternidade em si, posto que falhos e imperfeitos todos somos.
Na dor, busquei refúgio em Deus, que é a resposta para as coisas que não compreendemos e fogem do nosso alcance. Na noite de quinta-feira, na porta da Igreja, conversando com uma pessoa do corpo de obreiros, não contive minhas lágrimas ao descrever a dor ... e o que é pior: saber que não tem volta, que o tempo anda para a frente. Cada dia que eu perco ao lado dela, é um morto em sua formação e um dia morto no meu exercício paterno. É um dia morto em minha vida.
O amor paterno é algo incrível. Sei que a concepção amorígena está ligada a valores, tais como o nível de consciência, o entendimento, a razão e a pureza ou impureza com que nos colocamos desnudos diante de cada situação.
É certo que eu morri e morro um pouco a cada dia que passa. Perdi a graça em tanta coisa na vida desde que Nina foi afastada de mim. Sempre tive bem claro que uma mulher, no meu caso, a mãe da Nina, era e sempre será algo passageiro, pois as relações não se eternizam. Agora, o filho, a filha, esses são eternos. Nunca pensei que seria afastado de minha filha como fui.
Hoje, sou um pai de domingo. De algumas horas de domingo.
Não desejei isso a minha filha. Não dei causa a isso.
Por tudo, oro para Deus, ainda tento recobrar as forças que tenho e seguir em frente ... sempre com ela na minha cabeça, nos meus pensamentos. No meu coração, na minha mente, no meu espírito, na minha alma.
O dia de hoje é uma barra para mim. É tudo tão pesado. É um fardo horrível. Sei que ela está ali. Mas não posso abraçá-la, levar-lhe um presente ou dar-lhe uma festinha.
De qualquer forma, resta minha interação, tão criticada por muitos, aceita por outros tantos, mas, enfim, sou o que sou, não mudaria nada, faria tudo de novo.
Nina existe, Nina vive. Viva a Nina. Parabéns a ela, hoje é seu aniversário.
O papai te ama.