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Channel: JÚLIO PRATES
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O direito de sonhar e sonhar e sonhar

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Sábado foi um dia importante em minha vida. Apesar dos tumultos, o Guilherme sempre acha um tempinho para conversarmos reservadamente. Ele acha que meus olhos de lince vêem o que ele não vê. Ele é boa gente. Tem fé, aposta na vitória.

Engraçado, uma importante autoridade do Estado, declino o nome por ser hilário, convidou-me para jantar e sugeriu que eu levasse minha família. A primeira idéia que me ocorreu são das duas cadelas que se mudaram para a porta de minha casa. Não sei quando eu morrer, quem levará meu corpo para o crematório. Odeio velórios. O corpo fica li exposto à satisfação sádica de uns e subjetiva de outros tantos. Ninguém ousa incursionar nos porões de nossa maldade.

Acho que um dia falei para uma psicóloga ou psicanalista, não me lembro bem, mas pessoas como eu tendem a atrair cachorros de rua. Já é um consolo. Eu tenho esse lado, onde estou, os cachorros acampam ao meu redor.

Nos últimos 12 anos, quando fui casado com a mãe da Nina, quando eu ia para aquele lugar (que eu odeio) a minha maior felicidade era passar a noite com os cachorros. Eles dormiam nos meus pés. Era uma transmissão harmônica de sentimentos e afeições. As víboras não chegavam em mim.  Enfim, conseguia repousar.

Sei que as almas falam. Sei que as almas pressentem-se. É fácil desenvolver esse lado. A linguagem das almas dá-se com a magnetismo dos corpos. Apenas isso. E nem é tanto a expressão corporal. A coisa é karmika mesmo.

Eu sei porque os cachorros gostam de mim. Aninham-se ao meu redor. Eles sabem que minha alma é mendiga, que eu sou tão solitário quanto eles.

Eu sei que perdi minha filha. Já assimilei a idéia de não mais conviver com ela. Ela seguirá comigo, até as lembranças apagarem tudo.

Hoje, estive num culto na IURD. Ganhei um amigo, o Afonso, e fiquei tão feliz por ele. Foi uma pessoa que me passou uma coisa tão boa, tão fraterna. Eu senti que Deus falava comigo por intermédio dele.  

Adentramos outubro e frio insisti. Vou recolher-me, quero deitar, sonhar, sonhar colorido. Sonhar, sonhar, sonhar. É o que me restou.

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