A pontualidade dos protestos jovens e de outros segmentos, nessa tarde de sábado, em Santiago, é o ponto mais alto dessas manifestações até então.
As bandeiras reivindicatórias transcenderam o aspecto difuso da primeira marcha e definiram-se pela exatidão. Ora, os jovens alegam que não querem mais ir para a Serra e querem trabalho na terra.
Essa simples reivindicação trás embutida em si mesma uma complexidade enorme.
A linha discursiva do prefeito Júlio Ruivo, que sintetiza todo o pensamento conservador santiaguense, é avesso a uma industrialização mais avançada.
Santiago, afora não ter infra-estrutura, a começar pela carência de energia, sequer estava preparado para encetar esse debate, que implica numa reviravolta completa no eixo socioeconômico local.
O PP aposta numa cadeia produtiva local, não aposta em deslocamento do eixo e não tem propostas para industrialização mais ampla. E nem tem como acompanhar a velocidade desses pleitos.
O certo é que se essa bandeira for aprofundada no meio jovem, estará sendo criado um problema fatal para o establishment local. Até o presente momento, o discurso do PP reinava dominante, não tinha contraponto, a oposição não sabia e não sabe como contestar essa lógica e, agora, surpreendentemente, esse complexo discurso surge no meio jovem, estampado como bandeira política de toda uma geração.
Resta saber quem conseguirá hegemonizar a bandeira da industrialização e da geração de empregos local. É claro que isso passa pela captação de sentimentos e da adoção de alguma proposta que entre em sintonia com as aspirações da juventude.
Essa bandeira é muito séria. Aliás, corroborada por todas as pesquisas que indicam que empregos e indústrias ponteiam as reivindicações das grandes massas populares de Santiago.
Por outro lado, pari passu com o pleito dos empregos, existe a emergência de pleitos específicos relativos ao ensino superior e mais uma vez nossos políticos estão sendo colocados em xeque.
A verdade é que Santiago e sua elite perderam a UERGS, perderem a UNIPAMPA, perderam o IFET e praticamente eliminaram-nos do mapa do ensino público, a despeito de termos uma Escola Rubem Lang caindo os pedaços e jogada às traças.
A conjunção dessas duas bandeiras estampadas pela juventude em seus protestos, educação pública e empregos, mexe profundamente nas entranhas políticas de Santiago, fere a essência da lógica conservadora e – por incrível que pareça – dá uma luz para os perdidos da oposição, que nunca conseguiram elaborar um discurso que entrasse em sintonia com os sentimentos subjetivos da população jovem.
A amplitude de tudo isso não pode passar alheio, como se fosse apenas uma palavra de ordem num cartaz. Os jovens sabem o que querem, têm acesso à informação, são bem politizados e querem viver em paz em nossa cidade, com suas famílias, com seus amores, com suas festas e com sua típica alegria.
Essa onda conservadora que disparou milhares de e-mails nessa noite, contendo uma foto de um jovem pedindo liberação da maconha, é obsoleta e ultrapassada. A marcha pela maconha é legítima e até o STF já deliberou acerca do assunto. Os jovens que querem liberdade para fumar maconha precisam ser respeitados em seus direitos, não vejo problema nenhum nisso.